quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Coma com o Coração!

Vivemos num contexto particular onde está enraizado na cultura da população Terceirense as diversas festividades, começando nas festas tradicionais concelhias e das diversas freguesias ou mesmo nas festas do Carnaval, do culto ao Divino Espírito Santo, entre muitas outras. É facilmente percetível das particularidades dos estilos de vida adotados por esta população, nomeadamente no que concerne aos hábitos alimentares, de consumo de álcool e de falta de repouso, fatores determinantes e que estão na base da nossa reflexão. Abordaremos estes hábitos de vida relacionados com a doença Hipertensão Arterial nas suas diversas características, dos seus fatores de risco no seu surgimento, apresentando soluções para evitá-la ou mesmo os seus tratamentos.
Segundo Seeley (2005), define-se Tensão Arterial (TA) como a medição da força exercida pelo sangue contra as paredes dos vasos sanguíneos. Esta tem como valores normais máximos num indivíduo adulto e saudável, segundo a Direção Geral de Saúde (DGS, 2004), os 139/89 mmHg. Quando o valor da TA se encontra acima dos valores normais, e de forma mantida ao longo de um período de tempo variável e de acordo com perfil de risco cardiovascular do doente, poderemos estar perante um caso Hipertensão Arterial.
Para explicar o funcionamento da Hipertensão Arterial no organismo, podemos utilizar o exemplo de Martins (s/d), que compara a canalização de uma casa à nossa circulação. Imaginemos então uma casa na qual a água corre na canalização com uma pressão superior àquela para a qual a canalização foi construída. Em pouco tempo surgirão avarias: fugas, desgaste da bomba, mau funcionamento das torneiras, entre outros. É exatamente este processo que sucede no corpo humano.
Uma vez diagnosticada, a Hipertensão Arterial é um problema crónico, como tal, e apesar do tratamento adequado, não tem cura. Assim, no futuro poderá provocar outros problemas como doença coronária (“angina de peito”), enfartes agudos do miocárdio, insuficiência cardíaca (vulgarmente conhecida por “coração dilatado”), acidentes vasculares cerebrais (“tromboses”) e insuficiência renal. A importância da avaliação regular da TA prende-se com o facto de podermos agir a tempo de prevenir estas doenças graves, algumas delas podendo mesmo levar à morte.
Os sinais e sintomas principais desta doença baseiam-se em dores de cabeça, zumbidos nos ouvidos, palpitações no peito, tonturas, excesso de transpiração particularmente após o esforço (Schaffler, 2004). Note-se ainda que algumas pessoas não apresentam quaisquer sintomas, sendo esta doença detetada apenas através da avaliação da TA. Os indivíduos adultos saudáveis devem fazer o rastreio de Hipertensão Arterial através de um Exame Periódico de Saúde junto do seu Médico de Família com uma periodicidade de 4-5 anos. Neste exame, o seu médico fará a avaliação do seu Risco Cardiovascular Global através da identificação dos fatores de risco para doença cardiovascular.
Como fatores de risco para esta doença são apontados a obesidade, uma má alimentação e o consumo exagerado de sal e de álcool, o sedentarismo, o tabagismo e o stress. No entanto, num pequeno número de casos, a origem da Hipertensão Arterial relaciona-se com outros problemas de saúde tais como doenças dos rins, alguns tumores (feocromocitoma), toma de medicamentos, etc.
Facilmente é interpretado que o peso da alimentação tradicional Terceirense tem influência direta na ocorrência da Hipertensão Arterial, uma vez que, por mais deliciosa e apreciada pela maioria de nós e dos que nos visitam, é também muito rica em sal e gorduras, como o caso da alcatra, dos torresmos, os enchidos, as favas escoadas, as imensas “mesas postas” para as visitas nas tardes de touros, repletas de doces, tudo isto acompanhado pela boa cerveja fresquinha… Apesar de facilmente se encontrarem estas iguarias nos nossos dias, será premente não fazer desta uma regularidade quotidiana, tendo em vista que aumentam as probabilidades de surgirem problemas de saúde.
Falando em prevenção da Hipertensão Arterial, obrigatoriamente falar-se-á da adoção de estilos de vida saudáveis, que se iniciam com uma boa alimentação, um consumo moderado de bebidas alcoólicas e cessação tabágica, prática de atividade física regular, por exemplo caminhar 30 minutos por dia e 5 a 7 dias por semana, e por fim, a redução de peso em indivíduos obesos ou com excesso ponderal (DGS, 2004).
O tratamento dietético da Hipertensão Arterial baseia-se na perda e controlo de peso, eliminação da ingestão de alimentos ricos em sal e gorduras como enchidos, bacalhau, carnes mais gordas como vaca e porco, conservas, salgadinhos, queijos, manteigas e óleos alimentares, além de alterar os métodos de confeção substituindo as frituras por grelhados, cozidos, estufados e assados sem gordura. Além disso, deve-se aumentar a ingestão de vegetais, frutas e laticínios magros, carnes magras como peru, frango, coelho e peixe (Mahan, 2010).
Se estas medidas não foram suficientes para o controlo da TA, é necessária a adoção de medidas complementares, como o início da toma de medicação própria, cumprindo-a corretamente segundo as indicações do médico, ir a consultas de vigilância e, atenção, nunca tomar outros medicamentos por livre iniciativa, pois estes podem alterar os valores da TA, e se for diabético é ainda mais importante que consiga um duplo controlo, da diabetes e da TA (Martins, s/d).
Concluindo, a Hipertensão Arterial é uma doença crónica que afeta uma grande percentagem da população e que pode ter complicações sérias no futuro. É, por conseguinte, um problema de Saúde Pública. Daí que seja importante adotar estilos de vida saudáveis e realizar o Exame Periódico de Saúde como forma de rastrear e tratá-la atempadamente.
Autores: Enfermeira Micaela Santos, Enfermeira Tânia Silva, dra. Sílvia Zambujo, Dr. Paulo Branco